sábado, 28 de fevereiro de 2009

intempestividade do (in) finito



“Alguns caminhos para o finito” foi o minicurso ministrado por Mello e Castro em novembro de 2008. Para além da mostra de seus trabalhos de videopoemas, videoperformances, conversas importantes sobre o nascimento da escrita e do “movimento abdutivo”, dimensão da poesia experimental, mergulhamos em questões sobre o tempo, o que nos envolveu numa cumplicidade e amizade gratificantes. No entanto, ficamos longe de resolver ou entender a participação efetiva do tempo em nossas vidas. E por isso mesmo, ainda conversamos sobre isso. Mello e Castro de um lado, lá em Portugal, e eu aqui, buscando respostas não muito racionais para o pensamento confortante do tempo supostamente coerente e generoso. Pois sim, coerente porque temos o dia e a noite. A manhã, a tarde, a noite e a madrugada. Mas o tempo cíclico, o que rege nossas vidas terrenas, a que diz respeito aos hábitos, nosso cotidiano, não é o tempo do indiano, por exemplo. A idade cósmica deles é abissal, o que nos assusta, diz Aurélio Guerra Neto, “[...] também desorienta nossas escalas e desintegra nossas referências básicas e nossas medidas ocidentais. Nosso tempo, o tempo vivido por nossos espíritos e crenças, é bem outro.” (A propósito do Mahãbhãrata). Disso não tenho dúvidas. Por isso, a idade de alguém não quer dizer muita coisa, além da aparência. Nem a idade, nem o sexo, nem a cor e nem nada. O que acontece são intervalos em medidas não medíveis, de pequenas ou grandes durações, lentas ou razantes, profundas, tão diferentemente dos andamentos de nossas vidas. Ou inesperadamente paralelos as nossas vidas. Um instante é o tempo da eternidade. Krsna na batalha final: “O que pode trazer de bom esse combate?” Meus amigos , meus mestres, minha família, provavelmente todos morrerão..”. “Não seria preferível a inação que a ação?” Se a grande questão do pensamento indiano concentra-se no tema da ação, eis seu principal ensinamento: (não falarei demais para não cair em besteiras e superficialidades, pois existem muitas coisas importantíssimas nos livros indianos que sequer sou capaz de mencionar) o de trabalharmos velocidades e lentidões que não nos deixa contribuir para a “universal confusão”, motivada pelo desejo de passividade. Esse desejo de passividade equivale-se à crises existenciais, nas quais as possíveis ações correm o risco de paralisações, diferentemente do repouso. O repouso pode ter a ver com renúncia. Renúncia do movimento? Sacrifício. Não sei bem, caros leitores. Estudarei mais e escreverei para vocês sobre esses pensamentos tão divertidos e saudáveis. Por hora, indico a vocês um livro que Ernesto me indicou em nossa última e rápida conversa: " Frequentar os incorporais" de Anne Cauquelin, Ed. Martins Fontes, 2008, que desenvolve a aplicação da noção de Incorporais, dos Estoicos ( como o vazio, o tempo, o lugar e o exprimivel).

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

outra palinhapaideuma

(Carla Dameane)

EXTRA! EXTRA!
A PLASTICIDADE ANATÔMICA EM DESDENCANTO!

PERNA MECÂNICA CHUTA ESFERA EMBORRACHADA
LUVAS DE SEDA DÃO TAPA NA CARA DE PAU
TOQUE PIANO DE RÉ EM SÍ!

OS OLHOS DE VIDRO ESPIAM BONECA INFLÁVEL
O NARIZ DE BATATA INALA VAGINA SILVÍCULA
A CARNE TOCA PURULENTO ALGODÃO

O PÊNIS EMPIRULITA-SE NO MEL DA COMÉÍA
PICA ABELHA!

CORAÇÃO COM PONTOS DE CRUZ DE SAFENA
ALFA BATE TONS E MESMA CANÇÃO
TOQUE PIANO DÓ DE SÍ!

ESPANTOMEN, ESPANTANIMAL
ESPANTUDO QUE NÃO FOR DE PALHA.
TUDO O NÃO PEGUE FOGO,
OU O PRÓXIMO ÔNIBUS

TUDO O QUE NÃO SEJA PLÁSTICO,
TERRIVELMENTE HUMANO.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Carnaval com Rufo Herrera


Para quem ficou e para quem não ficou em BH (se der tempo para a volta), hoje, às 19,no Conservatório da UFMG, Rufo Herreira faz concerto interpretando peças de Piazzolla e Bach. R$10,00 (inteira)e R$5,00 (meia).

domingo, 22 de fevereiro de 2009

palinhapaideuma



(Vera Casa Nova)
pai
deu
ma
que de grego não tem nada.
Resta na língua esse sabor de palavra
eroticamente a dizer outras palavras
de um desejo vão
Saber a palavra
sorver o sentido
verter para dentro dela a forma incorreta
não aprendida
ou dizer outra e outra palavra
puro ou impuro som.
pai
deu
ma
o corte na língua
e esse sabor de sangue
da carne comida.

desenho:MargaridaCampos
poema(dentrodolivro)Carol-lara

Ramon Martins - favorite painter


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

a surprise

I used to be a singer
but, I have decided
I´will send to you a surprise

I used being a writer
but, I have gave up
baby, E sent to you a surprise

I used myself
nowadays, E just want
being a surprise

me, I and myself

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Calçinha no botijão de gás

A calçinha com borda rosa, colorida de roxo com bolinhas também rosa. Foi parar no varal depois de um belíssimo banho de água quente no banheiro de 3 metros quadrados. Ela se encaixou no botijão de gás perfeitamente, mas não foi dentro. Enroscou-se lentamente, como que colocada, entre a válvula de liberação do gás e a parte de cima, aquela onde os trabalhadores pegam ao carregar o botijão. Ganhei um pé de pimenta biquinha no meu aniversário. Antes a calçinha no pé de biquinha do que morta asfixiada. Assim ela seria calçinha de pimenta e não inaladora de gases nobres. A justa moral da calçinha. Mais justa moral. Ôahhh, ôhaaaaa, ôhahaha. Filha da puta parte, onde os cavalos são apreciados em detrimento dos seus estribos. Nada que magoe a singela alegria esmagadora da dançarina. Dançarina destruidora de calçinha de bolinha.
Uma pequena licença poética a Seychelles: a vaidade é o princípio de corrupção! Monossilabicamente falando ou com um dissílabo, eu faço todo um universo com: sim! Não! Tem! Pau! Mão! Fé! Pão! pé! Sol! Céu!Cu! deus! Par!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

POETA MARGINAL? EU, HEIN?


não nasci em montes claros. não tenho nome completo. não sou professor. não consegui conciliar nada com a literatura. nunca publiquei nada. atualmente não resido em porto alegre. não me chamo eduardo veiga. não escrevo poesia há mais de 15 anos. não estou organizando meu primeiro livro. não sou graduado em letras. não acredito que a poesia seja necessária. não estou concluindo nenhum curso de pedagogia. não colaboro em nenhum suplemento literário. não estou presente em todos os movimentos culturais da minha terra. não sou membro da academia goiana de letras. não trabalho como assessor cultural da sec. meus pais não foram ligados ao cinema. não tenho tema preferido. não comecei a fazer teatro aos 12 anos. não me especializei em literatura hispano-americana. não tenho crônicas publicadas n’o republica de lisboa. não passei minha infância em pindamonhangaba. não canto a esperança. não recebi nenhuma premiação em concurso de prosa e poesia. não tenho sete livros inéditos. não sou considerado um dos maiores poetas brasileiros. nunca fui convidado para dar palestras em universidades. não vejo poesia em tudo. não faço parte do grupo noigrandes. não me interesso por literatura infantil. não sou casado com o poeta afonso ávila. na minha estréia não recebi o prêmio estadual de poesia. o crítico josé batista nunca disse nada a meu respeito. não sofri influência de bilac. não sou ativo, nem dinâmico. não me dedico com afinco à pecuária. não sou portador de vasto curriculum. não recebi mensão honrosa no concurso de poesia ferreira gullar. não exerço nenhuma atividade docente, nem decente. não iniciei minha carreira literária no exército. não fui a primeira mulher eleita para a academia acreana de letras. não tenho poesias traduzidas para o francês. não estou incluído numa antologia a ser publicada no méxico. minha poesia não é corajosa. não gosto de arqueologia. walmir ayalla nunca me considerou um revolucionário. nunca tentei compreender o homem na sua totalidade. não vim para o brasil com 5 anos de idade. não aprendi russo para ler maiakowski. meu pai não é chileno. não sou virgem, sou capricórnio. não sou mãe de seis filhos. nunca escrevi contos. não me responsabilizo pelos poemas que assino. não sou irônico. não considero drummond o maior poeta da língua portuguesa. não gosto de andar de bicicleta. não sou chato. não sei em que ano aconteceu a semana de 22. não imito ninguém. não gosto de rock. não sou primo dos irmãos campos. não sou nem quero ser crítico literário. nunca me elogiaram. nunca me acusaram de plágio. não te amo mais. minha poesia nunca veiculou nada. não sei o que vocês querem de mim. não espero publicar nenhum romance. não sou lírico. não tenho fogo. não escrevi isto que vocês estão lendo.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Atos falhos não são infalíveis (pequenas criações de esquizóides-personais)


Jean Sans Coeur me toma “não confunda pessoas com personas, elas não se relacionam intimamente”. Eu não entendi exatamente o que ele quis dizer, até mesmo porque ele é um Monstro-facínora. Não poderia mesmo sabê-lo, já que ele não é da nossa terra e não conhece nossa língua. Nem muito menos já ouviu falar de psicanálise. (aqui, eu arrisco com meu vocabulário limitado, pois não sei como os conterrâneos de Jean o chamam). Quando de passagem pelo Brasil, Jean se arrisca a pequenas frases que ele acha que me fará entendê-lo. Eu finjo que entendo já que ele finge que quer que eu entenda. Bastante discutível, ao menos no nível do planeta terra, essa coisa de querermos saber que pessoas ou tipo de pessoas somosnósotros. Se personas não são pessoas, tenho minhas dúvidas, pois até hoje não sei o que são pessoas. Eu apenas sei da possibilidade arbitrária de alguns psicóticos (no sentido psicanalítico e não no da terra do jean) de quererem dar vestimenta aos seus corpos, muitas vezes, sem consistência e sem convencimento. Poderia distinguir personas de personagens: existem traços marcantes em personagens – aquilo que você identifica. Por isso o teatro pode ser um saco (e se o ator não “encarnar” o personagem, a coisa não sei se piora ou estraga de vez – claro, tudo isso continua sendo discutível). Acho que neste ponto, Coeur concorda comigo (na terra dele não deve ter teatro). Personas só não são personagens porque personas não são, estão. Para criar uma persona é preciso esquizoanálise. Primeiro você identifica o personagem e logo o desmonta. Depois descobre as personas possíveis e aquela que está “em atividade” em determinado momento. Veja bem: qual persona está em cena? Que tipo de solo escolhe para se jogar e se transformar em outra persona para atuar em outros terrenos? Se for possível dar corpo ao personagem, mesmo que se tenha um traço marcante, talvez seja possível que esse corpo apresente outros traços, os que escondem os reconhecíveis. Produzir, criar um personagem: aquilo que não é. E claro, personagem que não faz esquizoanálise geralmente não passa de um personagem; sempre com seu discurso afiado e suas faces condenadas à representação. Facilmente digerível.

Ah, Jean! Seu horror é meu amor!!

Entregou-me um bilhete, antes de ir embora (se é que foi):

Senhorita,

O outro diz que seu lenço (assim como a cor do mesmo e sua simbologia) se perdeu entre as distâncias que se projetam entre a terra, a alta torre e o barco — que já se foi para o outro lado da noite.

O outro agradece pela gravura, mas diz que a aceitou mais pela falta de jeito de rejeitá-la do que por interesse ou educação.

Digo que a violência que esta persona efetua é impessoal e não-transferível, portanto, não a atribua ou direcione à sua pessoa. Quanto à previsibilidade, pergunto: é algo que se nota, um efeito que se produz ou que se atribui?! Cuidado, palavras tendem a "produzir vã os" por onde podemos cair em equívocos.

Sem mais,

Jean Sans Coeur

ps: não confunda pessoas com personas, elas não se relacionam intimamente

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Três passos para a ironia da memória.

1º - Permitir menos vivência talvez seja o segredo para não sacrificar-se ao esquecimento. Inevitável, tampouco doloroso, é a perda de memória. Ainda assim, seria necessária a vivência de algo para apagar outrem. Contradição verdadeira, dizia Jane Austen sobre a ironia. A memória se gaba daquilo que lhe convém e sorri disfarçadamente para aquilo que lhe confunde. Se a “Memória deve ser a lembrança e não o esquecimento do traumático, para que ele não se repita", na formulação de Adorno, então as cores das flores do guardador de rebanhos não devem se repetir apenas porque suas flores são como lembranças. Flores-cores mutantes que se lembradas passageiras e derradeiras de um tempo mórbido-remoto, não devem ser memoradas. O que pode ser lembrado altera o nível do esquecimento? O que se esquece para sempre é o que eternamente permanece in memória? Imagens que persuadiam. Eis a memória. Como lembrar o que não foi vivenciado e ainda como viver de lembranças? Como lembrar o vivenciado se o que se vive é o que vive e não o vivido? Viver por comparação ou por compensação? Não, meu irmão, viver de emoção, dizia um poeta esquecido, ou melhor, sequer nunca lembrado.

2º - “não viver do passado”, aconselha quase todos os personagens de novelas e da vida. Isso significa (no modo clichê de se pensar) que certas coisas precisam ser esquecidas para que outras sejam valorizadas. Como se num passe de mágica, coisas substituíssem outras. A questão não é assim tão banal de se espreitar. Existe todo um processo de substituição, uma balela que inclui o desejo, a fantasia, a imaginação e muitas outras coisas que demandam uma memória de leitura impressionante. Primeiro, se trocássemos o do pelo no, viver NO passado, provocaríamos um deslocamento físico do tempo, o que seria interessante para começarmos a pensar com poderíamos lembrar do passado num futuro próximo. Depois de viver NO passado, voltaríamos ao problema inicial, o de viver Do passado: seria um eterno retorno do recalcado com finalidade sem fim. Sendo o “achismo” muito bem vindo, conclui-se que todas as pessoas vivem DO passado justamente porque não podem voltar para ele. Se pudessem, viveriam de novo, fariam outras coisas e mudariam suas lembranças (lembranças essas muito suspeitas). Portanto, viver DO passado é algo como brilhar eternamente numa mente sem lembrança.

3º “Assim um horizonte se esquece num horizonte que se levanta”. O problema é quando se descobre que, inevitavelmente, as pessoas e as coisas que as acompanham são esquecidas mesmo. Esse momento de descoberta acontece ao deparar-se com todos os armários lotados de papéis de toda ordem, cartas, fotografias, cartões de cinema, de espetáculos, de viagens, de banco e documentos de toda espécie quase inimaginável. Essa acumulação só garante o esquecimento. Pois quando lembrados, lembram como haviam sido esquecidos e de como puderam dar-se à perdição. Por que não deixar tudo onde estava? Tudo em seu tempo perdido mesmo. Contrariado ainda mais. Tudo não servirá para muito, nem para pouco; nem para o bem, nem para o mal. Estão lá, estiveram lá. Não é isso o que importa: para que servem. O que importa é que quando nasce o sol, o outro já sumiu. A intensidade da luz nunca é a mesma. Como ser então afetado da mesma forma? Jamais poderão ser servos ou servidos. O objeto só é de desejo porque deseja ser lembrado. Sem objeto, sem lembrança. Quantas coisas pessoais, quantas coisas de pessoas ou quantas pessoas e suas coisas foram apagados de sua memória? Quais foram as pistas, rastros que se dissiparam? O que é provido de demasiada importância é sem dúvida o que se apaga. Porque está em algum lugar que não pertence a nada. Somente está em algum lugar como no ônibus, no sonho, na voz, no odor, no canto do pássaro, no vagão, na lua, na calçada, no olhar, no sangue, no copo, na galinha, no fogo, no café, no choro do cachorro. Está em todas as coisas e em nenhuma delas ao mesmo tempo. As próprias coisas são os próprios motivos da memória. E sorri.

Por Carol Lara (01/01/2009)
Argumento: E. M. Mello e Castro
* jurisprudência reservada aos encontros autorais

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

E de repente a alegria. Seria o prédio mal acabado e praticamente deslizando sobre meu olhar? Ou seria o céu azul, quase branco, dentro da paisagem também mal acabada vista por mim? Alegria vinda do mau acabamento até que faz sentido. Ela vem do mal olhar que inclinado um pouco mais, apenas uns graus, torna-se então a alegria. É isso. Tristeza. Vestígio de tristeza na manhã mal realizada faz-se alegria. Que bom que é apenas um momento, assim posso retornar ao ciclo das possibilidades, moral das ações e responsabilidade. Uma pausa para a certeza ou o silêncio enfumaçado. Intervalos de angústia que permitem a ação. Mas qual ação? Acho que hei de escolhê-la. Sempre derretendo o tédio, voltando-se para as casas, os pássaros ou seus sons. Que situação! Nem eu mesma consigo explicá-la pra você. Mas não há situação, nem inércia e menos ainda quietude. Há desentendimento, confusão e baralho. Sim, cartas que contém números, desenhos e cores. Jogadas, elas podem ser muitas coisas. Guardadas podem ser nada ou ainda apenas cartas guardadas. Mas e daí? E daí, nada. São palavras misturadas. O sorriso também pode ser mal acabado. Ou mau ou acabado. O sorriso acabado já acabou, o sorriso mal acabado é um sorriso sem graça e o sorriso mau é um sorriso mau. Cínico, talvez. Mas o que é ser cínico? Qual a qualidade do cinismo? Os meios nem o fim podem ser cínicos. E eu só poderia dizer que faria algo por você depois de feito. Depois do ato é que encontro o valor da coisa que sofreu a ação. Portanto, sem ato, sem valor. Átimo, átomo do ser, dispendioso ser. Sim, estou querendo lhe dizer algo. Já foi dito. Apanhe no ar, mas não sinta dor. A dor também é escolha. E se você pensa que eu te amo foi porque eu inventei isso ou foi você quem inventou? Invenções. Inventamos o tempo inteiro. Elas estão dentro e fora de nós. Entra e sai sem que percebamos. Quando percebe pode ser tarde demais ou cedo demais. A hora certa, ora, não há nada certo! Escolha e viva. Você está condenado a ser livre. E estando condenado está sempre livre. É todo seu. Pegue pelas mãos, agarre-os. Jogue fora, se preciso. Mas faça, depois entenda. Não pare jamais. Como irei terminar esse texto? Ele não tem nada a ver com isso. Eu comecei e agora tenho que terminar ou parar no meio dele.

Por Carol Lara
para o moço que fala uma oitava acima

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

The rip



Queria ouvir uma música exatamente assim: que me contasse tudo o que sinto e que é indiscernível a nível de imaginação real. Não há imaginação, há calefação. Algo que dilata seu olhar e o faz ver que o amanhecer é o futuro apresentado. Ela me cantava e paralelamente ao repetível das notas me trazia tristeza e tristeza. Tristeza fria fria como uma pancada nas águas dos olhos. E fez com que ficasse ainda maior, toda essa imaginação quase encarnada como uma pintura. E o fim desapareceu porque a fluidez do nada o levou para as vozes que a levaram para sempre sempre que pudesse imaginar: portas abertas para o infinito acabado nas cinzas dos dragões. O fim finda o sêmen do alvorecer cheio de pétalas negras dialetizadas em outras gradações de negras folhas do escurecer. Ela o levou para sempre. Ele a perdeu para sempre. Como acabam todas as histórias no nível da imaginação inimaginável. Mas ela o seguiu na névoa que tapava as constelações que refratavam seu rosto rosto rosto rosto.
Por Carol Lara

Isto não é a porra de um poema

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Contus Humanus




Adentrei-me aos contos pela primeira vez quando li “O alienista”, de Machado de Assis. Depois veio o “Espelho” e outros do mesmo autor. Esses escritos, em especial, me puseram a ver questões interessantes sobre a psicanálise. Depois ou paralelamente, não me recordo, vieram outros autores como Sartre, cuja dinâmica escritural não era a do conto e sim a da novela. “O muro” me é caro: acaso incorporado (idéia dolabelística) de tragédia. Como a poesia é sempre a coisa que mais me cai às mãos, eu quase não leio mais contos (é insano). Pois nestes últimos dias me caiu às mãos o “Contus Humanus”, de Sylvia Marteleto. Alguns personagens marcantes que hora me lembravam alguns gestos de Sylvia e às vezes se dispersavam desses mesmos gestos. Digo isso porque em alguns momentos da leitura, em alguns dos contos, não soube identificar se a própria Sylvia era o personagem, se ela falava pelo e para o personagem, ou se falava apenas para o leitor, as três coisas ou ainda nenhuma delas. Essa minha confusão pode ter aparecido simplesmente pela falta de hábito da leitura de contos ou por Sylvia ser uma amiga querida e, antes de conhecer sua escrita, conheci seus gestos e faces tão fortes e provocantes, assim como alguns de seus personagens. “O falastrão”, que descobre a escrita como cura à sua doença da língua, a Betânia, opulenta e fedorenta, mas sempre impecável, o velho amigo de Elliot encontrando-se com Daví - uma troca alegre - o detetive com síndrome da conspiração e seu interrogado tão debochado, “A sonetista”, uma crítica a prostituição editorial que inclui algumas questões tão mal resolvidas: ser ou não ser arte, ou quem faz arte, quem escolhe Poder arte. Sylvia, como pesquisadora, não apenas mestranda do curso de filosofia soube bem dar vida para além de sua vida e sua individualidade. Um encontro feliz de personagen-conceitos.

Reproduzo alguns trechos:

“O meu tempo é outro. Constato o que todos constatam: não sou deste lugar. Sou filho de um tempo que nunca me pertenceu tempo de alternâncias entre o gozo dos espaços particulares e a impessoalidade da fórmula de ir e vir: desequilibradas seqüências insondáveis, imagens e comunicações eternamente editadas por n horas ao dia”[...]. ( O Falastrão)


“No velório, os nativos emocionados comentavam: “Vossa alma letrada foi digna de respeito...Mas a carcaça sublime, sufocada pelo próprio peido”
*Esta e outras sátiras estarão em “O mundo como vaidade e repetição, um tributo a Schopenhauer”. (Opulência, Sátira*)


“ De antemão te antecipo: como se Nietzsche em Sils Maria tivesse encontrado o seu super-homem, me sinto. Creio ser esta magnífica criatura, um presente tardio do criador para os meus setenta anos.” (Uma carta para Elliot)


“Tal como grandes prêmios imprimem no grande talento suas marcas, no amador, primeiramente, vemos impregnados os traços de uma arte ainda incompleta.” (A sonetista)


“ ...limpou a cena do crime, se preveniu e fugiu pela escada de incêndio. Só me responda mais uma pergunta: por que vir à polícia, criar um depoimento que o colocaria como suspeito em evidência, quando poderia estar longe daqui após matar quem quisesse, sem ao menos fornecer pistas?
- Gosto que duvidem da minha palavra. (O depoimento)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Maletta´s raga #2

existem também os lançadores de moda
os diluidores
os que puxam o velho garçom para a
cova necrofílica
ah, os idiotas! ah, os juristas!
Como j.c. ao inferno!
os que mandam dormir.
os que já estão mortos
os que atravessam a escada rolante
com uma mobília.
ah, os imbecis!
o jurista de t-shirt com cara
de velho garçom.
o lênin no botom pensa
na pin-up que passa.
Poema de Marcelo Dolabela/música de Francesco Napoli e Héctor Gaete