domingo, 10 de maio de 2009

It was hand-made


© Marco Villani, Lexotan Poem (2008), video installation,
Private Collection Switzerland


Das tendências impetuosas das manias psicologistas, a mais viciosa e maníaca é aquela que você ou tu ou nós e vós podeis achar que é possível saber o que se pensa por meio do que se escreve. O que se escreve não é o que se pensa. Da ingenuidade negada, a cor da bondade é aquela mais límpida, de água transparente. Assim como vontade e ação não são uma só coisa, como vislumbrou o apoeta, entre os pensamentos, as escritas e as falas existem linhas torturantes, tão solitárias que se as representamos por gesticulações surreais (porque nosso rosto político chega a ser surreal) cabelos demais às mãos são acrescentados. A solidão da mão: pêlos disfarçados de linhas do futuro, suor que passa despercebido. E ainda mão de solidão. Sem rima. Mão rostificada de dor. É bom que se saiba que solidão não é solidão. E um pouco menos, ser só e não ser solitário. Falar de solidão porque se sente só. Falta do que fazer, caso fosse o caso. As pessoas não são sozinhas. Ou pelo menos não sabem como fazer solidão. “Nosso corpo é tão somente uma estrutura social de muitas almas – em acréscimo às suas sensações de prazer como mandante”.

Conquanto, escrever também é uma necessidade do ser só que pensa que sabe pensar e não apreende ou abarca a vontade de outrem de leitura ou fala, ou ainda de riscos às interpretações. Se eu escrevo em “meu blog” e se você tem o péssimo hábito de ler o que eu escrevo, eu não posso haurir isso. Se eu escrevo para que você não saiba o que eu penso ou o que sou, me revelo em (in) certezas do absurdo de mim mesma. Se eu escrevo para que você possa se certificar do que penso, eu não mais penso. E isso é para que vocês, senhoras e senhores contemporâneos sei lá de quê ou de quem, possam usufruir da certeza das coisas que julgam ter sobre minha pessoa a cada vez que entram aqui sei lá para quê também.

Mas já que chegaram até aqui, vamos falar de solidão. Solidão pode ter a ver com aquela sensação (que são várias) de perda de um objeto que concorre a uma imagem cotidianamente querida. O que então faz a sua mão? Para onde ela vai? Um ser solitário pode ser só? Alguém só pode fazer caber a solidão na mão? Qual a dimensão da sua mão sem rima? O que ela alcança? Sua mão abre mão de “vida”? O que é a vida de uma mão sem linhas, provisoriamente nem mandante, menos comandante? Lavar as mãos é um tanto suicídio. Fazer morrer para não ser morto. O que se fez depois de lavar as mãos? Correu pelo bosque, delirou e sumiu.