segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Você é artista ou lhe chamam artista?


Vicissitudes da realidade. Nunca pensei em lhe fazer uma surpresa. Mas as surpresas da própria experiência estão sendo suficientes para que aqui esteja a escrever para você. O tempo sempre me foi algo digno de desconfiança, assim como qualquer verdade paralisada nele. O tempo do não entendimento é o tempo do trágico. De lá para cá e de cá em diante, não vejo motivos para não amar. O que também não significa que amo. O amor assim como o tempo deve ser tema de desconfiança. As pessoas simplesmente se aproximam e quase nunca se afastam, mesmo longe. O que poderíamos fazer mediante esse intempestiva falta de noção experencial? O chocolate, a cerveja, o peso no estômago. A felicidade contida na morfina. Maravilhosamente arranjada, circulando entre os tecidos, segurando os músculos com leveza indescritível. O susto de romper no meio. Mas o que é o meio? A dor só pode ser física. O resto não é dor, é sabor de poder. Poder conhecer o que não se conhece e ainda rasgá-lo ao meio, dividi-lo e guardá-lo, apenas para depois dizê-lo: isso é dor e isso não é dor. Pois digo que a dor é física porque doloroso é ter espírito. O coração é sua mente perturbada pela ficção da dor. “Microscopistas da alma” não são apenas os psicólogos ingleses. São também os que ajudam a construir a noção moderna da Religião, da Política e do Futebol. Devem mesmo ser entendidos os senhores de certos temas nos quais não aconselham que sejam reproduzidos, sequer mencionados. Sugiro também, senhores, que se calem sobre o tema da arte, já que as vozes que a reproduzem já lhe bastam.

Cada um em seu lugar. É melhor fazer o nada acontecer a deixar que ele seja porvir. É de fato justificativa a tamanha negligência com os estudos que me agarro à percepção de que a concepção de arte e do artista na contemporaneidade é fajuta em sua proporção, assim pelo menos diriam os “microcopistas” em suas análises. Não domino técnica alguma e, portanto, não poderia ser artista, dona daquilo que nomeiam arte. “Mas que importa isso as árvores?”. Os artistas não necessariamente precisam ser chamados “artistas”. E como poderíamos chamar Ginastera, os grandes compositores, os grandes atores, os grandes bailarinos, os grandes escritores....Ora, chamamos os bons escritores, os bons arranjadores, os bons, os bons e grandes só porque não podem nem poderiam reproduzir, tampouco, criar mediocremente ( e as técnicas lhe são bem vindas!). Bons - é o modo que encontramos para dizer que são despidos, incríveis, graciosos, mas não bons no sentido transcendental da palavra. Porque coisas boas e más ou feias e belas não existem no plano da arte. O artista necessariamente é aquele que consegue fazer encontrar texturas e emaranhados tão difusos e aparentemente dispersos dentro do mundo e fazem com que eles, translúcidos, funcionem de alguma maneira próximos, causando assim um distúrbio mental necessário aquele que participa de algum jeito desse encontro. E se chego a essa idéia de quebra-cabeça peculiar, é claro, não poderia considerar certas coisas obra de arte e certas pessoas artistas e, por isso mesmo, não considero também a noção moderna de artista. Então não preciso mais dizer por que Toni Ramos, um grande exemplo de “artista brasileiro”, não é artista, não é mesmo? Do ponto de vista técnico, ele é um bom executor e só. Não preciso considerar grupos que, em primeiro lugar, valorizam as diversas técnicas, mesmo que sejam considerados pela turma do “Cult” artistas e tanto. Também acho que não preciso citar esses diversos grupos porque tais citações não deixariam de revelar o mundo inventado por mim de classificações do que existe de criação em um determinado lugar.

Porque o artista só é artista porque desfaz, apaga da memória, mesmo que momentaneamente, qualquer vestígio que possa nos fazer pensar em bom ou belo ou suas oposições. A esperança de algo não ter que ser algo só o artista é capaz de mancomunar. Ele, com sua sensibilidade, que não é inata, faz coisas geniais, o que não significa que seja um gênio, salvo alguns casos raros de condições neurológicas extra medianas. Ta aí a importância do artista. Ele coloca em evidência a possibilidade da utopia, da vida que é trágica, mas nem por isso infeliz.