sábado, 14 de fevereiro de 2009

Atos falhos não são infalíveis (pequenas criações de esquizóides-personais)


Jean Sans Coeur me toma “não confunda pessoas com personas, elas não se relacionam intimamente”. Eu não entendi exatamente o que ele quis dizer, até mesmo porque ele é um Monstro-facínora. Não poderia mesmo sabê-lo, já que ele não é da nossa terra e não conhece nossa língua. Nem muito menos já ouviu falar de psicanálise. (aqui, eu arrisco com meu vocabulário limitado, pois não sei como os conterrâneos de Jean o chamam). Quando de passagem pelo Brasil, Jean se arrisca a pequenas frases que ele acha que me fará entendê-lo. Eu finjo que entendo já que ele finge que quer que eu entenda. Bastante discutível, ao menos no nível do planeta terra, essa coisa de querermos saber que pessoas ou tipo de pessoas somosnósotros. Se personas não são pessoas, tenho minhas dúvidas, pois até hoje não sei o que são pessoas. Eu apenas sei da possibilidade arbitrária de alguns psicóticos (no sentido psicanalítico e não no da terra do jean) de quererem dar vestimenta aos seus corpos, muitas vezes, sem consistência e sem convencimento. Poderia distinguir personas de personagens: existem traços marcantes em personagens – aquilo que você identifica. Por isso o teatro pode ser um saco (e se o ator não “encarnar” o personagem, a coisa não sei se piora ou estraga de vez – claro, tudo isso continua sendo discutível). Acho que neste ponto, Coeur concorda comigo (na terra dele não deve ter teatro). Personas só não são personagens porque personas não são, estão. Para criar uma persona é preciso esquizoanálise. Primeiro você identifica o personagem e logo o desmonta. Depois descobre as personas possíveis e aquela que está “em atividade” em determinado momento. Veja bem: qual persona está em cena? Que tipo de solo escolhe para se jogar e se transformar em outra persona para atuar em outros terrenos? Se for possível dar corpo ao personagem, mesmo que se tenha um traço marcante, talvez seja possível que esse corpo apresente outros traços, os que escondem os reconhecíveis. Produzir, criar um personagem: aquilo que não é. E claro, personagem que não faz esquizoanálise geralmente não passa de um personagem; sempre com seu discurso afiado e suas faces condenadas à representação. Facilmente digerível.

Ah, Jean! Seu horror é meu amor!!

Entregou-me um bilhete, antes de ir embora (se é que foi):

Senhorita,

O outro diz que seu lenço (assim como a cor do mesmo e sua simbologia) se perdeu entre as distâncias que se projetam entre a terra, a alta torre e o barco — que já se foi para o outro lado da noite.

O outro agradece pela gravura, mas diz que a aceitou mais pela falta de jeito de rejeitá-la do que por interesse ou educação.

Digo que a violência que esta persona efetua é impessoal e não-transferível, portanto, não a atribua ou direcione à sua pessoa. Quanto à previsibilidade, pergunto: é algo que se nota, um efeito que se produz ou que se atribui?! Cuidado, palavras tendem a "produzir vã os" por onde podemos cair em equívocos.

Sem mais,

Jean Sans Coeur

ps: não confunda pessoas com personas, elas não se relacionam intimamente

Nenhum comentário:

Postar um comentário