sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Super lançamento

"Não dá para viver sem arte"



"Dá para viver fazendo gafitte?" foi uma das perguntas feitas por uma jornalista do Correio braziliense a Ramon Martins. O pintor me mandou a entrevista completa, que publico logo abaixo. O interessante (tive um professor de fotografia que odiava essa palavra. Nunca entendi) é que não fiquei nem um pouco surpresa com a resposta "não dá para viver sem arte". Eu realmente não imagino Ramom fazendo qualquer outra coisa que não seja arte. Mesmo não sendo um amigo próximo, eu não imagino.


1- Há uma diferença técnica essencial entre o grafite brasileiro e o estrangeiro? E qual é?

Existe um jeito brasileiro de pensar e fazer o Graffiti, uma forma que é revestida por uma questão muito mais ligada a cultura do que ao material em si. A técnica é algo que varia de pessoa para pessoa, mas no Brasil eu percebo uma curiosidade em explorar os materiais que lhe são acessíveis e de criar outras formas de manipular esses materiais que no geral e o uso do spray. O spray tem muitas peculiaridades que pode apresentar dificuldade para quem nunca o manuseou,

As dificuldades técnicas são muito diferents dos materiais de arte tradicionais como o pincel, tinta e tela. Com spray você lida com a tinta em um estado que não é nem liquido nem gasoso. Você não tem um contato direto com a superfície como no caso do uso de um pincel, pinta-se com a pressão da lata, com manuseio da válvula, caps, entre outras coisas. Também se utiliza no Brasil o rolo para fazer Graffiti, coisa que aqui na Europa não é comum.

Outro fator relevante e já histórico e a influencia do Graffiti de Nova York em todo mundo, a utilização de letras e demarcação de território. O Brasil teve e tem muita influencia do estilo americano dessa época, porém, logo foram surgindo grafiteiros mais interessados em fazer o seu próprio estilo independente de ideologias, isto fortaleceu uma geração de novos pintores urbanos com um forte diferencial e que hoje estão sendo reconhecidos no mundo inteiro.



2-Olhando as fotos no seu flickr, tive a sensação de que em Rotterdam vc teve de lidar com superfícies bem maiores do que as que vc havia feito no Brasil? Como a ocupaçao de um prédio tão alto tornou-se possível e como foi desenvolvido o trabalho? Quanto tempo levou para ficar pronto?

Recebe o convite para vir para Rotterdam pintar numa cidade que foi praticamente quase toda bombardeada na época da segunda guerra mundial. Foram construídos inúmeros prédios para os desabrigados e hoje em dia Rotterdam e uma cidade com grandes prédios modernos, referencia no mundo inteiro. Essa paisagem atual se contrasta com esses antigos edifícios que agora viraram peças publicas de arte.

Na Europa existe uma política anti graffiti muito forte, com muito conservadorismo. Um projeto como este feito para que artistas do Graffiti Brasileiro viessem dar um diferencial na paisagem da cidade, foi muito chocante e inovador. A cidade agora conta com uma exposição em grande escala ao céu aberto, estralando aos de quem passa pela cidade.

O burburinho foi grande, pessoas curiosas e revoltadas outras indiferentes.
Recordo que no meu primeiro dia de trabalho; uma discussão começou acontecer entre o dono do muro que não estava gostando nada da idéia de ver seu prédio sendo pintado, com uma senhora que morava ao lado e que comprou a briga a favor da pintura, que no fim ela botou ele para correr.

Eu não estava entendendo nada, só era nítido que ela fazia questão que aquela pintura acontecesse. Acontece que uma jornalista do principal jornal da cidade, assistia tudo em silencio e fez um matéria para o jornal em que abordava muitas questões que estavam sendo levantadas com as novas intervenções na cidade.
No fim a pintura aconteceu e eu sou muito grato, não só a essa moradora que hoje convive com a pintura ao lado de sua janela, mas a todas as pessoas que suaram a camisa para que esse projeto tão audacioso acontecesse.
Foram duas semanas incessantes de trabalho árduo debaixo de sol, vento e chuva com muita diversão e aventuras.

3- Que técnicas você utiliza e quem são os seus referenciais? Está dando para fazer intercâmbio com grafiteiros daì? Como tem sido a experiência?

Sou um pintor quando pinto e para pintar preciso de cor, disposição e um pouco de mais sei la o que, entende?
Em Rotterdam utilizei uma base de tinta branca para impermeabilizar e preparar o muro, para depois fazer a pintura com spray. Mas eu pinto com o que da vontade e que tenho acesso; para mim o melhor material e o que eu tenho em mãos. A materialidade das coisas existem para serem exploradas, animadas e não uma ferramenta sem vida de assinar um cheque.
Minhas referencias estão no que eu vivo, em minhas convicções e estranhamentos, nas culturas que tenho, nas que eu não tenho e das quais invento. Da desclassificação do nome e do tempo, do fluir orgânico.

Estou tendo a oportunidade de estar viajando por diferentes cidades e estar conhecendo artistas e grafiteiros por onde passo.

O Graffiti para mim é como uma grande comunidade underground que permiti fazer troca de idéias, reconhecer a cidade com outros olhos e reinventar o espaço urbano.
Amigos que eu recebi em minha casa no Brasil agora me recebem em suas casas e me apresentam sua cidade como nenhuma outra pessoa ou guia turístico apresentaria. O role é outro.

4-Quanto tempo você ainda vai ficar no exterior?

Fico na Europa ate o inicio de outubro e volto para o Brasil para participar de um evento no Rio de Janeiro em que eu e mais três amigos vamos fazer um painel de 68m de comprimento com o tema “Brasil Rural Contemporâneo”. Na seqüência passo rapidamente por Belo Horizonte, São Paulo e Brasília e retorno para a França para fazer duas exposições ainda no mês de outubro. Depois volto para o Brasil para uma exposição em novembro no MASP de São Paulo.

5- Dá para viver fazendo grafite?

Não da para viver sem arte.

6- O que sua família acha da carreira que você escolheu?

A minha mãe é a culpada de tudo. Deu-me liberdade, não me censurou ou discriminou como a maioria dos pais fazem com os filhos no Brasil quando descobrem que eles gostam e querem viver de arte.

Muito pelo contrario, me incentivou a acreditar no que eu busco na vida. Mesmo que para isso nos precisássemos e passamos por muitas dificuldades. Alem de aturar por muito tempo toda minha bagunça em casa, como dizia ela.

Na casa da minha mãe, estão os meus primeiros trabalhos e todos o que eu quero que fique com minha família. Em casa não sai nenhuma obra que entra. A casa esta cheia de trabalhos espalhados pelos quartos, cozinhas, sala, salão de beleza, etc. Adoro como é feita a curadoria; meus irmãos brigam e colocam as telas preferidas no quarto, na cozinha alguns desenhos e telas que fiz a óleo e na sala uma serie muito diversificada de obras se misturam com os trabalhos que eu guardo dos amigos.

Em casa, estão minhas primeiras pinturas feita em resto de madeira com tinta para cartaz, me lembro que tudo começou quando fui procurar um emprego de cartazista com uns 15 anos de idade e acabei utilizando a oficina de placas como meu primeiro atelier, graças ao meu falecido amigo punk Podrão que não se importava.
os amigos são a família que escolho para celebrar a festa da vida.

7- Quantos anos você tem?

28 anos, nasci em são Paulo fui criado em minas gerais e moro atualmente em Brasília há dois anos.

domingo, 13 de setembro de 2009

Der Krieger und die Kaiserin


Quando você não sabe por onde começar algo, você começa simplesmente. Metendo palavras no papel como se não quisesse falar nada, só para ver se sai alguma coisa. E costuma não sair grande coisa; então, ou você joga fora ou você joga fora. Mas não é o caso, por exemplo, quando conversa com um amigo. Você começa quase que despretensiosamente, quase que apenas para não ficar em silêncio, e transporta um pequeno pensamento para o campo filosófico que inclui esse mesmo pensamento.

Várias coisas no mundo são disparadoras de horror, horror que nos faz boca-aberta. Uma delas, ou pouquíssimas delas, compartilho com um colega que não conheço que achei quase (também) por acaso na internet. Ele disse que tem gente que constrói objetos (não disse com essas palavras), mas é como se fizesse algo para que no fim, durante e sempre, levasse somente a um pequeno pensamento, lá, no ermo, dizendo: “Olha como eu sou genial”. O fã de Tom Tykwer estava a dizer sobre a obra do cineasta alemão “Der Krieger und die Kaiserin”, 2000. Pensei quase isso ao assisti-lo: “como é possível isso”? Ou seja, como é possível criar tais imagens??? E olha que nem me atentei para os detalhes técnicos, que o colega descreve em seu blog, embora eles façam parte do arranjo fílmico que me levou para esse bloco de sensação, que em mim, me fez devir gavião (não pergunte).

E fico me perguntando: como unir pensamentos que se calam diante do objeto? O à-toa do escrever e do dizer tem a ver com isso. Como fazer a coisa dizer o que nunca foi dito? (pelo menos não daquele jeito, vindo daquela forma). Por incrível que pareça, me lembrei desse filme, pois faz um tempo que assisti, ontem, vendo “Solo a dois”, de Alex Soares, dentro da programação do 1, 2 na dança. Foram três apresentações na noite, sendo esta a que menos amei, mas foi a que me levou para a “Princesa e o Guerreiro”, do diretor de “Corra lola, corra”.

O conflito entre duas personas, que são só uma, e que ora se entrega às linhas da vida que se cruzam, ora recusa, ora desiste e ora supera. Um sujeito sujeito a hecceidade.

Onde já se viu, me digam, um cineasta, na atualidade, que coloca, descaradamente, um personagem fazendo esquizoanálise? Especificamente, refiro-me as cenas ao final do filme, desde o momento do retorno ao posto de gasolina. Sim, colega, o cara é genial!