sábado, 16 de janeiro de 2010

É nocaute outra vez





Dono de um punho direito poderoso, Muhammad Ali-Haj desabava ao chão todos os seus inimigos. O boxeador dançava no ringue e desenvolvia, em cena, uma retórica inabalável.

Para os lutadores, aqueles que pretendem “dar uma boiada para não sair da briga”, do seu legado, Ali deixou uma importante questão (que envolve outras tantas) que merece atenção: o motivo da dança.

Os pés maleáveis e deslizantes operavam os esquemas de ataque e defesa dos punhos. Seu ritmo encurralava os adversários no canto e nas cordas da “arena”.

Na luta histórica contra Foreman, em 1974, Ali emocionou seus fãs, o público e os jornalistas da época, que hoje narram com esmero a impressionante jogada. Somente depois de alguns rounds Ali reagiu e, com seu nocaute irrepresentável derrubou Foreman.

O que mais parecia assustar a plateia, o fato de apanhar incessantemente com socos insanos, não passava de estratégia. Não se tratava de cansar simplesmente o inimigo, mas, sobretudo, dar a derrota a indubitável certeza da derrota.

Esse é o motivo da dança. E isso, independentemente de convicções religiosas e políticas (o que sobrava em Ali).

Com sua dança, ele desenhava as possibilidades da sua própria derrota. Paradoxalmente, acertava a cada erro empenhado.

O motivo da dança, portanto, não é o de vencer ou perder. É poder distender, dispensar, experimentar e libertar todos os caminhos traçados a priori, o que não significa a anulação das estratégias. Ao contrário, é pela estratégia que se desmonta estratégia.

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