quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Merry Christmas


'I stopped believing in Santa Claus when I was six. Mother took me to see him in a department store and he asked for my autograph.'

Shirley Temple

sábado, 19 de dezembro de 2009

com as cadeiras quebradas (no confessionário de Carlos)


ESTRELAS NAS CADEIRAS
Lázaro Mariano

Decerto sem consultar o tempo
As estrelas chegavam de todas as direções
Cravando em décadas cada momento
Inventando o brilho das constelações

Não bastasse a poesia na intenção
Elas teimavam a virar cometas
Distribuindo magia em rara porção
Fazendo da imagem todas suas letras

Vieram aqui viver como anjos
Embalando calmas o rigor da vida
Indagando as horas trazendo o acaso

Buscando assento em qualquer arranjo
Outras cintilando tal qual uma Frida
Outras performáticas embaixo do vaso

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

como os sinos dobram


Quando alguém se prostitui com manias de chás. A camomila tem gosto de piano desafinado e mal tocado. Quando tudo é tão embaçado quanto a mente. Os destinos veem de longe vigiar a discórdia. Não é nada bonito. Aumenta gradualmente seu som de trompete descarado e me fale sobre os lábios, de toda a tristeza babada. O escarro do estômago. Toda a dieta vadia da economia do amor. Como falar do surdo, do seu metódico andamento sem que se saiba sobre seu som?

Os trovões e relâmpagos, com piedade, não destroem o céu; já os tornados dispensam a ceia, a família e o ser terrestre. Espelir o ser que já não foi e não é. Fazer dele o que em vida nunca é. Já não há mais nada para dizer sobre o mundo. As falácias, todas elas, já se esgotaram. Os argumentos, os discursos e até os paradoxos; todos cansando o universo com suas esquisitices preguiçosas. O corpo e sua zikzira enfeitada de batom, pó, esmalte e camisinha extra lubrificada.

Se se repara atentamente um objeto ou uma pessoa, observa-se a sua não existência enquanto objeto ou pessoa. O que se pensa sobre a coisa em si é só o que se pensa sobre a coisa em si. E nada mais. O para si é aquilo que pensa não ser o em si e, por isso, o em si é também para si. Todas as panelinhas induzem às comidas. As comidas nos levam para os porcos e seus chiqueiros. Lavagem de outros porcos. Todos os umbigos ligados a imundice, a sujeira.

Se tudo o que é visível é tão ordinário, a beleza é só disfarce do turbilhão de ares turvos, monstruosos, opacos. Ela é o centeio destrutivo da terra. Assassinos de coisas terrenas e feias. No dia em que a terra parar, já estará ela parada, desolada e morta.

Racionalizar as coisas belas: trazer o pessimismo à tona; mesmo que ele não exista. O abraço enroscado no canto da paisagem. Areia. Pedra. Mar. O céu em quarto plano. Escrever é como capturar uma imagem musical. Soa todos os ventos da noite e também os da manhã. Eles se misturam e um sopro se coloca no lugar do outro. A possibilidade do não som aos ouvidos.

Quando for a sola do calçado a julgamento, os pés, todos eles, jamais serão alegres descalços. Todo chão que se pisa, rachado, fingirá complacência e lealdade. E o caminhar ganhará status de doçura e sonho. Já fundo, enraizado, jamais cairá em seu próprio abismo. A cor da bandeira então não mais será capaz de moralizar a paz.

Todos os mortos, todos eles se ajoelham e, em silêncio, nos sinais de trânsito, meditam o último livro dos últimos tempos. Passou da hora de ir, passou da hora de sair, passou da hora do não ser. Passou da hora da hora da hora da hora da hora da hora. Quando o discernimento se embriaga é hora de ir embora. Quando a sensatez aparece é hora de desaparecer. Quando todos os sinos, dobrados, se botam a tocar é hora de nunca mais ser tocado pelo céu.