segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O senso crítico e a tomada de posição: como se filosofa com o martelo?



trabalho fotografado por Renato Negrão em Porto Alegre, na Bienal do Mercosul, cais do porto

O tempo do recurso do recurso é o recurso do tempo

Paráfrase
Guilherme Aguiar

Nosso tempo é esse
Nunca houve outro
Nem nunca mais…

Nosso espaço transborda
A borda-fronteira da cidade
Que não pode mais nos conter,
Que precisa conquistar outros reinos,
Talvez esquecidos…

Não nos demoremos mais,
Não nos demoremos muito
Em viagens imaginárias...
Não curvemos nossa força
À inércia contemplativa

A paz depende da luta
A vida, da morte das incertezas,
O amor, de esforços de assalto aos corações
Incapazes de declarar seu intento…

domingo, 25 de outubro de 2009

poema alucinado

Ganhei, na última semana, este poema alucinado escrito por um amigo ainda mais alucinado.


O VICE

VC DESTRUIU TODO PLANO

A JOGADA

O
TABULEIRO
DE
XADREZ

VC

COMEU
A
RAINHA.

A RAINHA

ROEU

A

ROUPA
DO
PRESIDENTE.

O VICE- REI
REINA
MAS
NÃO
GOVERNA?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Força revolucionária de uma nova moral


Gostaria de indicar um lindo, esclarecedor e bem escrito artigo do prof. Mauro Araújo. "Uma nova moral em Nietzsche" pode ser lido em Ciência e Vida, v. 8, p. 34-45,2008. Fiquei muito feliz com o encontro (por acaso, com minha sobrinha no shopping, entrei na banca e vi a revista) pois é muito raro encontrar bons textos sobre Nietzsche no Brasil. (pelo menos dentro da minha pouca vivência acadêmica - e isso se resume em três experiências: 1 -prof. de teoria da comunicação III falando merda do filósofo - 2 - doutor em filosofia, professor do curso de especialização na UFMG, falando merda do filósofo e 3 - "nietzscheanos" falando merda do filósofo.
Tenham uma boa leitura.

domingo, 11 de outubro de 2009

vai lá

A casos felizes


Essa noite sonhei que me escrevestes um email, pela primeira vez. Via o nome na caixa de entrada, mas não conseguia abrir. Uma nova seqüência de imagens confusas surgiu em meu imaginário onírico e me perdi de você, mais uma vez. Ao acordar, fiquei pensando se mandastes o email do partido que a muito tempo vem contribuindo para o fracasso do que chamam democracia no Brasil.

Minha visão, ao passar em frente ao lugar onde pequenos comunistas se reúnem, turvou-se em borboletas enquanto Tchaikovsky fundia meus ouvidos com sua regência. Foi rápido. Mas você estava lá a me olhar. Sempre me olhando, me vigiando. Ah, acabo de me lembrar que, no sonho, não sei se logo após seu email, eu estava a escrever um texto que teria três partes, caso eu o concluísse. Era um texto sobre a raiva. Acho que Raiva I, Raiva II e Raiva III. Que coisa besta. O que eu poderia escrever sobre a raiva? Será que teria produzido um bom argumento sobre o assunto, se minha demente mente deixasse? Nunca pensei em escrever sobre isso. Talvez seja porque, quando acordada, tenho estudado muito sobre as relações Zweite Unschuld (culpa/dívida/inocência). Credor e devedor envolvidos entre delito, punição e vingança Ad infinitum.

Algumas boas idéias são reveladas em sonho. Por isso mesmo é importante e saudável que as pessoas tenham pelo menos oito horas de sono. Não apenas rumores de idéias em movimento, mas fortes e leves fragmentos de sensações perpassam por nossos corpos enquanto sonhamos. Não acontece da mesma forma com o sonho-pesadelo. Por algum motivo, não vamos até o fim com os pesadelos. Acordamos bem antes do desenrolar dos fatos. Se estou prestes a morrer violentamente ou de qualquer jeito, não morro, acordo. Se vejo o que não quero, mudo, em sonho mesmo, o rumo das imagens; por mais que isso me assuste e me deixa em estado melindroso, ainda estou no comando. Ah, outra coisa que acho muito engraçado também é que sonho com o amante sempre na primeira noite que está em minha cama. Ele do meu lado e eu sonhando com ele. Isso é muito divertido. O corpo e sua projeção de aspiração.

Raiva I – Consiste um conjunto de raivas que, separadamente, indicam o que, quem e por que.

Raiva II – estágio avançado da raiva, onde as táticas de desafeto, desavença e desespero são preparados e disparados.

Raiva III – momento de fingir desprezo. Diz não desprezar por não pensar no desprezado, sendo que: toda significância do ato de desprezar está na imagem do desprezado.


Estou orgulhosa de mim mesma. Consegui terminar, acordada, o meu sonho raivístico. O que antes acontecia muito e que não mais acontece e que gostaria muito que voltasse acontecer é a continuação do sonho em outro sonho, em uma outra noite. É sinistramente prazeroso.

O sonho dá ferramentas para a literatura. Não é tudo, mas sugere gentilmente algumas entradas que indicam algumas sinuosas passagens de cânticos e danças cheios de....Na verdade, não sei. Não faço literatura. Não sou escritora. Eu sou só sonhadora. Deliro sonhos que penso ser literatura. Aquele homem me mandou um email pela primeira vez e nem ao menos sei o que ele disse. Aquele homem que é artista, que é comunista, detetive. Ele que é misterioso. Ele que não diz que me ama, ele me procura em todos os lugares, quieto, calado, como se não me visse. O não dito é nosso labirinto saboroso. O dito é pura mentira de quem não sabe sonhar.

sábado, 3 de outubro de 2009

Cause nobody loves me. It´s true.



Ele perdeu a mulher e o filho. Ele perdeu os pais. Ele perdeu o pai. Ela perdeu o primo e os avôs. Ela perdeu o irmão. Todos morreram, “com o maldito cadarço vermelho que ela odiava”, dizia a mãe histérica, agarrada a outro homem, depois de ter perdido o marido e as filhas num acidente de carro.

Mas e se o que se perde, o que efetivamente vira pó, não é mesmo o que já se sabia da realidade incontestável do mundo dos homens? Não. O homem-nós pensa que está protegido das fatalidades da vida. E quando a tragédia passeia pela rua onde alguém mora, as crises são as mais variáveis possíveis. Do suicídio a depressão profunda. Da religião a violência. Nenhum niilismo ou existencialismo ou ainda qualquer vã filosofia poderiam curar a falta ou o excesso de imagens desejadas durante toda “uma vida”. Para desejar imagens é necessário que elas sejam criadas e conhecidas. Para desejar imagens é mesmo preciso que elas existam em algum lugar. Outro dia, indo assistir a um filme imbecil, um amigo me disse: “Nós procuramos o conteúdo nas imagens, somos carentes dele”. Será que as imagens que aparecem diante de nós são vazias como supostamente devíamos ser na modernidade? Vazios em relação ao que vem de cima. Vazio de Deus: auto-suficientes para representarmos a nós mesmos sem o aval da autoridade divina, sendo o homem o deus legítimo, mais especificamente, alguns homens deuses, outros súditos. Uma observação tão bem colocada por Didi-Huberman em relação a oposição crença e tautologia e a produção que advém dela: ao atualizar o conceito de Imagem Dialética, o autor nos leva para um caminho entre aquilo que foi nomeado, principalmente pelos críticos, e aquilo que olhamos, enquanto objeto de arte. Ele propõe um olhar que não necessariamente tem a ver com o que se quis fazer ou que se quis ver. É obvio: esse olhar entra na dinâmica da aura. São duas imagens em um foco só, “um longínquo que se aproxima”. Elas independem daquilo que são nomeadas. Nem o homem (vamos incluir as mulheres, não é mesmo? Elas também pensam) que crê em si mesmo ou aquele que crer em alguma entidade misteriosa, que teoricamente o guia, pode intervir na combinação visual que é produzida no momento em que a obra aparece diante de alguém ou do próprio realizador. Essa aparição é misteriosa porque não é possível saber em qual momento ela acontece (não vamos discutir agora se é possível a existência da aura benjaminiana em trabalhos atuais porque isso não é a pergunta aqui. O autor estava ocupado em entender as radicais mudanças no modo de produção, com o uso de novas tecnologias, e como isso estava afetando o modo, inclusive, não apenas de fazer arte, mas pensar arte). A pré-ocupação que quero evidenciar aqui são as diferenças entre vida e arte que se confundem a ponto de fazer paralisar uma ou outra coisa.

Portanto, o desejo é algo alucinante, imprevisível e não está a serviço de ninguém. Ele é produzido a todo instante. É por isso também que as oposições não são possíveis na realidade imanente. A sujeita (o) pode muito bem crer nela e em um santo qualquer ao mesmo tempo em que produz uma pintura na contemporaneidade que representa um deus, um amigo ou qualquer outra coisa que passe por sua percepção no momento em que está com seus objetos de trabalho nas mãos. Tenhamos muito cuidado com a palavra representação.

A culpa (religiosa) ainda permanece e o esquema operacional do pensamento continua o mesmo na modernidade, porém invertido. Antes, basicamente, culpa por não conseguir chegar a perfeição celestial e agradar o coração do senhor (Beethoven conseguiu com a Nona sinfonia e conseguiu, talvez, por odiar a possibilidade de se sentir culpado) . Depois (e talvez até hoje), culpa por não conseguir agradar os próprios corações humanos (então não faz sentido o rompimento com Deus). Seria problema de desejo? Seria um problema de representação do desejo? Mas e se queremos a representação do que ainda é inesgotável? Será que a palavra representar não está sendo mal representada? Será que ela está sendo representada como “apresentação”?

Deve ser por isso que inventaram a psicologia ou ainda deve ser por isso que alguns ainda insistem com a psicologia (e a partir dela, outras várias ramificações). O interessante é que não iremos nunca entender o que se passa na cabeça e no corpo de alguém por vários motivos e um deles, bem simples, é que nós mesmos não controlamos o que passa por nós. Por isso as teorias na área são problemáticas: as várias teorias, de várias naturezas, todas elas explicam o mundo desejado do ser. Aos menos, os filósofos ainda perguntam. Mesmo que sejam as mesmas perguntas, eles ainda perguntam. Deixam-nos pensarmos por conta própria. “Enquanto Freud explica tudo, o diabo fica dando os toques”.


Algumas imagens apresentam possibilidades, representando um universo que sempre será incompreensível, em escala escatologicamente inalcançáveis. Elas não se fazem opressivas, vergonhosas, culposas, verdadeiras porque quem as qualifica são os que se apossam delas. As imagens sem juízo deixam aparecer as outras imagens que as formaram, sem, no entanto, enfraquecê-las. Estão todas em formação no mundo, diante dos olhares que faz parte dele. O que fazer com isso? Nada. Talvez mudar a pergunta em favor de um novo olhar, aquele inspirador de aura, de vivência misteriosa em meio a coisas ainda mais misteriosas; que não é uma coisa, nem outra. Que não fere, não pune e se morre é porque morreu sem punição ou castigo. Morreu talvez porque Deus quis assim ou talvez porque somos muito parecidos com nossos cães e gatos ou ainda porque alguma coisa muito melhor do que esse mundo medíocre nos espera. Nada é conforto, nada é morte ou vida. O movimento não é acolhedor. Habitamos nele e aprendemos a viver com ele.

Essa noite eu/ vou amanhecer/ hoje eu vou sofrer/olhando o céu sobre a janela a me enlouquecer/ e toda essa gente suave que me faz parecer/uma doce nota azul/ em paz
(Banda Zanzara/Outro amanhecer)